sexta-feira, 27 de agosto de 2010

[Silver] Coisa que sonho, na mesma ordem do sonho.

Foi um sonho, desses que perdemos o fôlego.

Passava-se em tempos novos, em casa velha, uma casa pintada de bege ou amarelho envelhecido, as janelas todas escancaradas com bordas de madeira já com o verniz rachado, como um quadro velho que não tem desenho ou paisagem, somente o claro do sol que criava longos feixes de luz, que batiam nas cortinas brancas que dançavam ao vento.
Nos quatro cantos haviam janelas, todas grandes e abertas, corria eu para o outro cômodo, e lá o mesmo, as quatro janelas grandes escancaradas.
Não dava a impressão de estar no mesmo lugar, pois os moveis eram diferentes, ora moveis de quarto, ora de sala, ora de cozinha e eu correndo já sem fôlego, usando sapatos, gritando algo.
Era um nome, nome esse que só descobri pouco depois de já estar cansando de tanto correr e ver tudo aquilo igual, já quase sem forças, esbarrando em todos os moveis, panelas ao chão, jarros sem flores, sofás de madeira, bati de fronte com você, digo, ela.

Um esbarro, tímido, e assustado.
Em minhas mãos estava essa corrente de prata que trago a anos pendurada no pescoço, só que faltava-lhe um pedaço, faltava justamente o pedaço que ela segurava nas mãos.
Quase que com nariz com nariz, podia eu sentir o calor de sua respiração, afastei-me e baixei a vista, fitei meus olhos em suas mãos que carregavam o outro pedaço, ainda sem entender atrevi-me a segurar as suas mãos entre as minhas e com muito esforço levantei meu olhar a encontrar o seu, numa timidez singular, via eu em seus olhos, olhos de quem tem alma alva, tamanha pureza e de quem tem o poder do domínio sobre meu ser, fitava-me.

Sem saber prendia meu olhar ao dela, buscando palavras...

Veio um trecho antigo que quando li pensei imediatamente nela, pensei que o poeta noutra vida pensou que tamanha beleza viria a existir somente em sua época, e que tamanha beleza jamais existiria em época minha, pobre coitado, errou ao dizer que gerações futuras diriam que ele mentia, só acertou que tamanha beleza não poderia ser descrita com palavras.

Tentava recitar, porem sem sucesso, as palavras saiam fora de ordem, ficavam sem contexto.

"Se eu pudesse descrever a beleza dos teus olhos e enumerar teus atributos em épocas vindouras... diriam: o poeta mente! A Terra jamais foi acariciada por tal toque divino".
(William Shakespeare)


Bastou, mesmo que sem êxito dizer o quão importante era em minha vida, o quanto quero que fique ao meu lado. Bastou.
Ela por sua vez baixou seus olhos que eram firmes em direção a nossas mãos, segui-a e vi que as partes da corrente como que por efeito especial Hollywoodiano juntaram-se diante dos nossos olhos.
Os olhos sem encontraram mais uma vez, e nisso sai de mim e pude ver aquele jovem casal entregando-se a comunhão do beijo.
E tudo fez-se sombra, já não havia tamanha claridade do sol, vai ver as cortinas fecharam-se.

Acordei.

Um comentário:

[silver] "Que os pensamentos tornem-se a expressão do corpo"